sábado, 7 de maio de 2011

Divino

Inacreditável! Vou até jogar na mega. Eu encontrei o Juliano! Meu primo. Ele tá trabalhando aqui. Pode? Eu nunca mais tinha visto ele. Desde os 10, 11 anos. Minto. Eu encontrei o Juliano uma vez. Na boate. Vi aquele gato dançando, pensei, eu conheço esse cara, e era ele, o primo Juliano. Fui falar com ele, lembrar do tempo de infância, aquele papo típico de bêbado. Ele não deve ter gostado muito, disse que ia buscar bebida pra gente e sumiu, me deixou falando sozinho. Coincidência encontrar ele de novo, logo aqui. Como se não bastasse, sabe o que tava tocando na sala de espera? A Valsa-da-meia-noite. Antenógenes Silva. É, An-te-nó-ge-nes. Nome esquisito, né? Jesus amado, não é demais? Voltei à infância na hora que ouvi. Tá bom, eu vou começar. A gente morava na melhor casa da rua. A melhor, não, a segunda melhor. A melhor de todas era a casa da Elaine. A casa da Elaine era linda. Telhado tipo chinês, janelas em arco, tinha até um laguinho com peixes na frente. A nossa era mais simples mas era maior. Tinha sala de estar, sala de jantar, escritório. Na sala de jantar tinha um lustre de 6 lâmpadas sobre a mesa, arandelas de bronze bem bacanas no resto dos cômodos. As paredes da sala eram pintadas de rosa e verde bem clarinho. Tinha varanda e garagem para 2 carros. Na varanda tinha um sistema de autofalantes ligado direto na radiola da sala. Domingo a gente era obrigado a sentar nas espreguiçadeiras pra ouvir Dolores Duran, Nelson Gonçalves, Antenógenes Silva. É, o da Valsa-da-meia-noite. O jardim da casa tinha 1 pé de brinco de princesa junto da torneira. Tinha 4 quartos. O nosso quarto era pintado de azul. No nosso quarto tinha 3 camas. 3 camas não. 2 camas e 1 berço. O berço era do Binho. O mais legal era o armário. O armeiro era tão grande que a gente abria as portas e brincava de teatrinho nele. Era hilário.  A gente se enrolava nos lençóis, nos cobertores, vestia as roupas da mãe pra fazer de figurino. Eu pendurava duas brinco-de-princesa na orelha, travesseiro nos peitos. É, desde pequeno eu levava jeito. Eu era princesa, rainha ou esposa do faraó no teatrinho.  O primo Juliano era sempre o meu par. Príncipe, rei, faraó. Não. Ninguém nunca censurou. Coisa de criança, né? Acabou? Já tou terminando. Não pode? Tá bom, vocês vão perder a melhor parte.

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