sexta-feira, 13 de maio de 2011

Ezequiel

como o xamã da tribo pré-histórica retornando da caça antes da neve ele expressou pela primeira vez o nosso assombro pelo mundo que surgia, os nossos terrores ainda não experimentados, as nossas visões, ele invocou forças protetoras antes de nos dispersarmos nas direções dos 4 pontos cardeais, para originar as nações, os povos da Noite e das grutas de Caracala, os plantadores de cânhamo do mar Morto, os navegadores ruivos dos oceanos de gelo, os devoradores de carne humana da floresta amazônica, nas terras férteis da Mesopotâmia, da Namíbia ao rio Congo, às margens do rio Nilo e do rio Ganges, nas estepes, dos Grandes Lagos à Terra Nova, ventres prenhes, a terra a ser cultivada, cidades a serem construídas, represas, túneis, pontes sobre corredeiras, redes de comunicação submarinas, aparelhos de guerra e destruição, transatlânticos, bolsas de valores, poemas, espelhos, projeções, reflexos, miragens, e nós, na verdade há milênios-luz daquilo, por meio dele nós tocamos o desconhecido, a sensação era incômoda, flor de pedra arrancada, farpa, espinho dos séculos sob a pele, cristal crescendo na víscera, a dor nos mantinha despertos, atentos, nós ouvíamos as histórias, as aventuras interiores dele, o brilho do fogo das palavras dele, nós tentávamos compreender o princípio, o âmago, o primordial de onde ele veio, nós nem intuíamos, os insetos translúcidos, a mariposa emaranhada nos cabelos despenteados dele, estrelas, às vezes havia lua, as palavras dele sedimentavam-se, depositavam-se sobre a areia, debaixo das ondas, turvas, no mais profundo de nós mesmos, e

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