segunda-feira, 16 de maio de 2011

Jônatas

Se fosse vivo, hoje ele completaria 80 anos. Eu não teria lembrado se não fosse você. Bem, eu sinto saudade dele, sim. Mesmo com todos os problemas que a gente teve. Quando ele era vivo. Quando eu era mais novo. É, eu até escrevi um texto. Para homenagear os 80 anos, para relembrar, para marcar a data. Nossa, eu desenterrei umas coisas do tempo do onça naquele texto. Que tipo de coisas? Deixa pra lá. Passou.  É, sempre eu digo: as nossas diferenças se acabaram com a morte dele. Como assim? Mentira? É, eu já disse mil vezes. Eu me arrependo. Hoje eu sinto falta dele. Se fosse hoje eu não teria me comportado daquela maneira com ele. Tá bom, ele mereceu. É, ele não precisava ter dito aquilo. Pô, eu só tinha 17, 18 anos. Mas quem, em um momento de raiva, não solta os cachorros? É, eu sei. Depois que a pessoa morre tudo fica mais fácil. A tendência é suavizar os defeitos. Depois que morre, os podres da pessoa desaparecem. Por encanto. Ah, como ele era legal, ah, como ele era bonzinho. De certa forma ele era sim. Ele se esforçou sim. Na medida do possível. É. Nos limites dele. Entenda bem. Eu me arrependo, sim. Eu me arrependo de não ter dito algumas coisas pra ele. Coisas que poderiam ter mudado completamente a nossa relação. Eu achei que tinha superado a mágoa. Que nada. O texto de hoje, o texto para homenagear os 80 anos dele, por exemplo. Não, eu não quis publicar. O texto estava cheio de mágoa. Sabe aquelas mágoas que não adianta, que por mais que você tente, por mais que se esforce, floral, terapia, sexo, porre, volta e meia aquilo volta? pois é. Muita mágoa. É, eu sei, eu também não fiquei atrás. Eu sei que eu magoei muito ele também. Mas porque você tá perguntando? Pô, tem pelo menos uns 20 anos que ele morreu. É, 80 anos hoje. Sabe o que eu mais me arrependo de não ter perguntado a ele? Como assim? Você tá brincando? Tá dizendo o que? Ele? Nem adianta, eu não acredito.

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