domingo, 1 de setembro de 2013

balança mas não cai - parte 2

Resumo da parte 1, postada em 05 de agosto (leia aqui):

Eu estava hospedado em casa da condessa de Z, em um edifício chamado Balança mas não cai - em bairro classe-média-alta-decadente, em uma linda cidade litorânea. Fomos convidados para um happy hour na cobertura babilônica do edifício. A cobertura pertencia a Marilu Venegas, filha de um famoso pintor modernista já falecido e casada com um autor e tradutor. Havíamos bebido muitas cervejas durante a tarde no apartamento da condessa de Z e já chegamos bastante calibrados na festinha.

...

Mas não havia mais festa. Ou, melhor, já tinha acontecido. Ou, melhor ainda, tinha sido um brunch  iniciado às 13 horas.

Mesmo assim Marilu, depois de um suspiro e de um olhar desesperado para o bando de bêbados à porta, convidou-nos a entrar. Pura cortesia.

Marilu era lourérrima. Plásticas visíveis no rosto e pescoço e muito botox aplicado nas rugas dos seus prováveis setenta anos. Vestia um macacão de piloto de fórmula 1 em couro vermelho muito justo e decotadíssimo.

Apresentou-nos Otavinho, o marido. Que, segundo ela, traduzia um texto inédito de Hannah Arendt.

Enorme de gordo era o Otavinho. Ocupava todos os 4 lugares do sofá da sala. Mergulhado na penumbra. Iluminado apenas pela luz da tevê ligada no Faustão. Deitado estava, deitado Otavinho ficou. Sem nos olhar, emitiu uma espécie de grunhido como cumprimento generalizado.

...

Enquanto Marilu foi até a cozinha para buscar cerveja, a condessa de Z, fofoqueira que era, desmentiu a história da tradução. Otavinho vivia em estado semi-letárgico. Mal articulava uns gemidos além daqueles grunhidos. Passava dia e noite deitado no sofá rabiscando ziguezagues em resmas e resmas de papel A4. Tudo isso provocado pelas doses cavalares de remédios controlados ministrados a bel prazer de Marilu. 

...

Sentamo-nos à varanda. Onde já estavam o quadrângulo amoroso formado por Claudinho (o bofe gostosão), Carmencita (a esposa do síndico e amante de Claudinho), Benzinho (o síndico) e Paulo César (a tia velha intelectual podre de rica e amante-patrocinadora de Claudinho).

...

Claudinho ofereceu-se para me mostrar os jardins suspensos da cobertura. Mal saímos do campo de visão das pessoas na varanda - não entrarei em detalhes. Retornarmos meia hora depois - levemente despenteados, amarrotados, riso bobo na cara, sob uma chuva de zombarias e o olhar fuzilante de Carmencita.

...

Eu era uma espécie de celebridade no Balança mas não cai: tinha lançado um livro na mesma livraria onde Clarice Lispector costumava autografar. E conseguido uma minúscula resenha (10 linhas distribuídas em 5 cm2) no caderno 2 do Jornal do Brasil da segunda-feira. Por isso, a Condessa de Z enchia minha bola mais que o merecido, diante de gente tão ilustre como Marilu e de Paulo César que, além de podre de rico, compusera o refrão de uma música com Chico Buarque.

...

Marilu conduzia a conversa. Falava sobre os velhos tempos: quando o pai era vivo; quando era recebida pelo prefeito, cortejada pelo governador, deputados e senadores, até por um vice-presidente americano; quando foi aplaudida de pé no Municipal (não me lembro mais o motivo); etc, etc.

A condessa de Z, a essa altura sob os efeitos de altíssimo grau etílico, todo o tempo atravessava a conversa. Primeiro tentou me promover à sua mais recente conquista amorosa.

Ao perceber que ninguém deu bola (vide a cena anterior, da visita guiada aos jardins suspensos de Babilônia), ela passou a agredir Marilu: tanta pompa antigamente e hoje (pobre Marilu) alimentando-se às custas de salgadinhos de vernissagens e cafezinhos das salas-de-espera dos gabinetes de vereadores. Assim por diante

Enquanto isso, Claudinho segurava minha mão e me fazia cafuné independentemente do olhar furibundo de Carmencita. Que estava a ponto de explodir com a nossa pouca-vergonha.

Para piorar a situação eu, também semi-alcoolizado, falei mal do ChicoBuarque. Critiquei sem piedade logo a música feita em parceria com Paulo César (a tia velha intelectual podre de rica).

 Ou seja: o clima social em ebulição e o pandemônio instalado.

(continua)

Nenhum comentário: