quinta-feira, 12 de setembro de 2013

jaca

Matriarca trazendo uma jaca-mole pequena (foto do Gabriel)

Segundo a internet, a jaca (para quem não conhece, o fruto da jaqueira) é o maior fruto cultivado do mundo, podendo pesar até 60 quilos e 90 cm de diâmetro. É originária da África (outros dizem Sudeste Asiático) e foi trazida pelos portugueses no período da colonização. A jaca é rica em carboidratos, cálcio, ferro, fósforo, iodo, vitaminas A, B e C e etc.

A casca da jaca é dura e áspera, formada por pequenas saliências pontiagudas, na cor verde-amarelada. O interior é formado por uma polpa viscosa e fibrosa, amarela, onde aninham-se os bagos e as sementes.

No Brasil são conhecidos pelo menos 3 tipos de jaca: a jaca-dura, a jaca-mole e e a jaca-manteiga.

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Apesar do tamanho gigantesco, somente 30 a 40% dela é aproveitado. Os bagos (a polpa) podem ser saboreados in-natura, frescos. Deles fazem-se também suco, geleia, compota e uma espécie misteriosa de aguardente. Depois de cozidas e descascadas, o sabor das sementes lembra o das castanhas portuguesas. Podem ser servidas como tira-gosto ou por exemplo, esfareladas sobre uma salada verde e tomates-cereja, regada com azeite e ervas.

Outro dia descobri também (receita do médico homeopata) que o talo interno (branco e mole, de onde prendem-se os bagos) - pode ser temperado e levado ao forno como se fosse carne assada, tipo lagarto recheado.

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Há uma técnica para abrir a jaca sem ficar dias com as mãos grudando, por causa da resina que ela expele no caule, na casca e nas fibras onde se aninham os bagos e as sementes. A técnica é passar óleo de cozinha na faca e estripar a bicha sem tocá-la. Ou então usar luvas de borracha.

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Considero abrir uma jaca uma experiência sensorial única. Erótica mesmo. Acredito que todo mundo deveria abrir uma jaca pelo menos uma vez na vida. Motivo?

Porque a jaca é muito orgânica. Visceral. A viscosidade e a umidade faz a jaca parecer um ser ser vivo. A forma externa e o conjunto interior formado pelas fibras, talo, bagos e sementes lembram as entranhas de um ser extraterrestre.

Abrir uma jaca e retirar os bagos remete à sensação de fazer um parto. Uma cirurgia. Ou uma autópsia.

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Eu prefiro fazer o serviço com as próprias mãos. Sem o auxílio de faca, óleo ou luva.

Primeiro, forço até romper a membrana da casca. É incrível a sensação da aspereza cedendo. E o aroma doce que exala da ferida aberta no fruto-barriga. Depois enfio a mão na carne, por entre as fibras, para localizar os bagos. Com uma leve pressão, retiro cada semente, redonda e pegajosa. Como a cabecinha de um recém-nascido. Até restar só os tufos de fibras aderidos aos pedaços de casca, cujo destino é o lixo.

Separo os bagos em porções pequenas. Lavo bem os caroços, cozinho-os, descasco-lhes e também os congelo. Para comer um ou outro fora da temporada das jacas.

(Hoje eu guardei o talo interno para experimentar a receita do doutor no almoço de amanhã).

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Nas religiões afro-brasileiras a jaqueira é uma das árvores de Loko ou Iroko, a divindade-árvore. Em alguns terreiros os filhos não podem comer jaca ou mesmo aproximar-se dela. Em outros, a quizila (restrição) é só para os filhos de Oxum.

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Além da fascinação pela forma, aroma e textura, e antes de saber da presença dela no candomblé (conforme parágrafo acima) eu sempre achei a jaca um fruto sagrado. A jaqueira não necessita de muitos cuidados. Cresce rápido, desde que o solo possua um mínimo de umidade. A árvore adulta é exuberante. Frutifica generosamente. Os frutos nutritivos são capazes de alimentar de forma variada uma família inteira (seja indiana, coreana, tailandesa, vietnamita, africana, nordestina) nos períodos de escassez.

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Plagiando uma amiga: façamos uma campanha pela disseminação da jaca. Levemos a jaca para a Ana Maria Braga e para a Regina Cazé na Rede Globo e para todos os lares brasileiros. Exportemos jaca fresca, jaca em conserva, sementes de jaca enlatadas, suco de caixinha de jaca, jaca sem agrotóxicos. Fabriquemos roupas, calçados, telhas, peças para automóveis, submarinos e aviões com fibras de jaca. Votemos na jaca, libertemo-nos pela jaca, oremos pela jaca, ó jaca-mole, jaca-manteiga, jaca-dura, livrai-nos do Malamém (*), só a jaca poderá nos salvar.

(*) frase de um mamulengo assistido no domingo

2 comentários:

Anônimo disse...

Só para que conste, a enorme viscosidade nas mãos, provocada pela abertura da jaca com as mãos, pode ser facilmente eliminada. Para isso só precisa de juntar numa das mãos, pondo-a em forma de concha, 1 colher de sopa de óleo e 1 colher de açúcar. Depois é só esfregar bem as mãos uma na outra insistentemente durante um minutito e pronto!! Pode utilizar a dica conforme desejar.

Anônimo disse...

.aaamém..rsrs..