Nadar pra mim é um mix de condicionamento físico e faxina mental. A monotonia do ir, bater na borda e voltar durante 1 hora ou 2 me faz tão bem quanto uma meditação. Para isso, me associei à AABB: piscina olímpica, limpa, aquecida e sistema de purificação da água sem uso de cloro.
Tento manter a regularidade, 3, 4 vezes por semana. Geralmente nos finais de tarde e nas manhãs dos finais de semana. Nos sábados e domingos eu chego cedo, antes das 10h, por que tem pouca gente, o som-ambiente do bar ainda não está ligado e o sol é saudável (mesmo assim eu me besunto de filtro solar).
Pois bem, hoje eu me atrasei. Cheguei no clube por volta das 10h. Um ônibus de turismo ocupava 10 vagas no estacionamento; adesivado em letras gigantes: "Foi Deus quem me deu".
Me alonguei, tomei a ducha, aqueci 500 metros e estranhei a música gospel, vinda não dos autofalantes da lanchonete, mas do salão social.
Exerci a tolerância bem humorada: estavam dando uma folguinha para o pagode, que normalmente toca o dia inteiro. Nadei até completar os 2.000. Fiz educativos de pernas. Até me aventurei umas braçadas de golfinho.
Só que o volume da música, inicialmente suportável, começou a aumentar. Era um show evangélico. A certa altura, a cantora gritava, no meio da música "jesus! glória! aleluia!" etc. Cantava mais uma estrofe e prosseguia a gritaria. Histericamente. O operador de som também se empolgava, pois quanto mais a moça gritava mais ele aumentava o volume.
O pavio da minha tolerância é curto. Minha malhação-meditação tinha ido por água abaixo. Olhei em volta: os salva-vidas indiferentes; as espreguiçadeiras e os guardassóis já todos ocupados pelos banhistas; peitos e bundas, bronzeador, chapéus, sungas estampadas, crianças correndo, pulando na água. Será que a gritaria da cantora só incomodava a mim?
Foi quando ouvi o comentário embevecido de duas funcionárias: "que lindo! vai durar o dia todo!".
Aí subi nas tamancas. Fui procurar um dos diretores de plantão. Afinal de contas eu sou sócio. Entendo que além das mensalidades dos associados, um clube vive de alugar seus espaços. Mas, convenhamos, em horários adequados. Eu me senti (e sinto) no direito de reclamar. De manifestar meu desagrado.
Não encontrei ninguém. Deviam estar no show.
Show? para quem?
Puro proselitismo. Em plena manhã de sábado. Tolerar a diversidade, tudo bem, ainda mais eu, que acabei de escrever um livro sobre candomblé. Mas ser obrigado a entupir o meu ouvido com aquela estridência vocal de decibéis potencializada, me desculpem o lugar-comum, eu não merecia.
Desisti. Fui tomar banho. Felizmente o vestiário é afastado. A voz esguelada da doida não alcançava. E fugi dali o mais rápido possível. Como o diabo foge da cruz.
(Vou mandar esse texto para a diretoria do clube. Sei que não vai dar em nada, como não deu em nada aquela reclamação da TAM. Mas não posso deixar passar em branco, exercer meu papel de consumidor e cidadão).
Um comentário:
Ao contrário da TAM, que continua me enchendo a caixa postal de spans promocionais sem uma vírgula sobre o incidente no vôo Rio-Brasília, a AABB desculpou-se por e-mail. Segundo o texto, quando alugaram o espaço não imaginaram o que iria rolar. Agradecido
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