eu te compraria um álbum, daqueles com capa de couro desbotado e cordões de seda com pingentes nas pontas, fotografias de pessoas mortas, lugares soterrados e dos nossos momentos felizes, fixadas por cantoneiras de papel-veludo em folhas de cartolina verde-musgo, separadas umas das outras por folhas de papel-manteiga
eu contrataria aquele músico cego e mudo para tocar só para você, aquele, do programa da televisão, para extrair sons-acordes do infinito, dos anjos, das estrelas e das profundezas ao friccionar de leve, com as pontas dos dedos molhadas em vinho rosê, as bordas de taças de cristal de tamanhos, cores e formatos variados
eu te tatuaria na superfície inteira da minha pele, tuas costas nas minhas costas, os pêlos das tuas pernas nas minhas pernas lisas, o teu tórax e os teus mamilos no meu peito de tuberculoso, a tua boca, o teu nariz e o teu rosto na máscara tosca do meu rosto, o teu saco, o teu pau e os teus pentelhos no arremedo que é meu sexo sem você
eu te daria um aparelho telefônico que só chamasse o meu número, uma bola de cristal que previsse o teu futuro ao meu lado, chaves que te abrissem os meus segredos mais escabrosos, sapatos com asas que te levassem cada vez mais longe dos meus pesadelos, uma cota de malha que te protegesse dos ferimentos do meu punhalzinho com cabo de madrepérola
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