(...)
Quando ainda éramos capazes de nos equilibrar sobre as nossas próprias pernas e enxergarmos mais de um palmo adiante dos nossos narizes, pouco antes de anoitecer nós cavávamos um buraco na superfície do gelo sobre o lago, com diâmetro suficiente para que pudéssemos mergulhar. De madrugada nós abríamos as portas e as janelas da casa e deixávamos o vento e as cores cambiantes da aurora boreal cobrirem os nossos corpos. E quando a pele enregelava e os dentes trincavam de frio nós pulávamos da cama, descíamos correndo dos nossos quartos, atravessávamos a sala passando bem longe do fogo, cruzávamos o jardim (cuja grama congelada cortava os nossos pés), saltávamos a cerca até a superfície do lago e constatávamos que onde antes era o buraco cavado durante a tarde não passava de um círculo torto de gelo mais fino e transparente por onde só nos restava assistir ao movimento lento dos cabelos das algas no fundo da água.
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