domingo, 18 de dezembro de 2011

do diário anterior (1)

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Antes havia botões e depois flores e depois frutos a brotar nas pontas dos galhos, havia ovos de larvas a escovar das folhas, havia formigas subindo pelo tronco, havia até ninhos desajetiados que mal se sustentavam em duas ou três bifurcações de ramos. Havia a terra fofa de sereno logo de manhã, mosquitos a picar os tornozelos ou os ombros descobertos, réstias de sol ou quando muito gotas da chuva noturna pingando no nariz e respingando no rosto quando soprava o vento. Havia também o trabalho subterrâneo das larvas, as crisálidas enterradas durante anos para nascerem borboletas de apenas um dia, túneis das térmites aflorando tão delicados na superfície vermelha da terra, havia pedras quase lisas como ovos de avestruzes ou de répteis pré-históricos e debaixo delas ovos verdadeiros dos lagartos, centopeias enrolando-se em espirais, esporões bifurcados das lacraias, escorpiões vermelhos e besouros verde-esmeralda tão pequenos quanto broches que corroíam as folhas.

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