quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

a crítica

Rainha de Copas. Do filme Alice, de Tim Burton. Imagem retirada de ego.globo.com

Crítica desfavorável é como chute no saco. Se você receber um em público, deixe a alma se contorcer mas mantenha a pose: corpo ereto, expressão neutra, se possível um sorriso. Finja (aproveitando o bordão infame) que nada vindo de baixo te atinge.

Aconteceu comigo. Hoje pela manhã. Ao abrir a internet. Não acreditei. Alguém indignado com minha versão engraçadinha da vida de Teseu. E não era a Leitora Impaciente.

Em 2011, vivi uma experiência semelhante. Eu era fã de um autor brasileiro contemporâneo, prolífico, novinho, bonitinho, inteligentérrimo e gay. Li os livros dele em pouco mais de uma semana. Louvava o rapaz aos 4 ventos. Criei um link do blog dele aqui. Enviava comentários elogiosos (ou apaixonados?). Assistia às entrevistas em talkshows gravados de canais alternativos. Seguia-lhe os passos e curtia até os puns que publicava nas redes sociais.

No dia da morte de Amy Winehouse o escritor do nariz empinado postou um comentário de mau-gosto no Facebook. Seus 25 mil seguidores curtiram. Menos eu. Eu nem era aficcionado pela Amy. Mas estava meio surtado. Retruquei. Em público. Chamei o autor de imaturo.

Eu sou mesmo muito errado.

Provoquei um pandemônio. 24.996 seguidores indignados. O autor detestou o puxão de orelha (eu também odiaria). Subiu nas tamancas. Me chamou de cafona. De velho gagá. Apagou o comentário.  Excluiu da lista de amizades a mim e aos 4 gatos pingados apoiadores da celeuma. Ainda me xingou e me desejou a morte em privado.

A adrenalina subiu. Perdi o sono. Apaguei o link dele do HD. Redigi uma tréplica irada (publicada na mesma madrugada e sabiamente retirada do ar no dia seguinte). Vendi a obra completa dele para um sebo. A indignação não era pelos xingamentos. Era por ele impedir que a opinião diversa criasse (ou não) polêmica. Ele agiu como a Rainha Copas da história de Alice. Ao primeiro sinal de contrariedade esperneou: cortem-lhes as cabeças!

...

Tá, eu não sou santo. Engoli em seco o sapo matutino. Subiu aquela indignação. Aquela raiva básica (caraca, velho, eu fiquei escrevendo até as 4 da manhã e o cara não entendeu nada!)  Li, reli e treli a crítica avessa. Justifiquei educadamente. (Por trás da atitude Polyanna havia o lado interesseiro: nada melhor que uma polêmica para aumentar a quantidade de acessos ao blog).

Ao invés de deletar o instigador (como o bonitinho fez comigo) eu respirei fundo. Zen. Me coloquei no lugar do crítico. Para entender as razões, os argumentos dele. Admirei a coragem de se expor. Inclusive me alegrei: se ele se deu ao trabalho de materializar a crítica foi por que o texto o sensibilizou de alguma forma.

A discussão estava aberta. Pena que o crítico retraiu-se. Pena que ninguém aderiu para se solidarizar ou para atacar. Pena que a minha resposta (e a necessidade de explicações) restou soando no vazio da indiferença. Ou no oceano das inutilidades virtuais.



2 comentários:

Carolina Vianna disse...

E cadê o comentário?

Gladstone disse...

Na chamada do texto do Facebook de quinta-feira, 12/02.