Dias quentes e de céu azul brilhante e brisa balançando as cortinas. Permaneço a maior parte do tempo deitado, ouvindo música, conversando no chat, olhando os e-mails, comprando óculos importados e suplemento alimentar, lendo jornais ou baixando filmes pra assistir quando perco o sono de madrugada, esperando o osso colar.
Desenhei uma mandala do yin & yang rodeada dos trigramas do i-ching com pincel atômico no gesso da perna até quase a virilha e ficou bem bacana. Lembro de ligar para a repartição na quarta-feira, só para não perder o hábito. Confiro o extrato e a planilha de gastos. Presto atenção ao barulho da faxineira arrastando os móveis e aspirando o apartamento de cima, em pleno domingo de carnaval.
Me arrasto até o banheiro com um pré-socrático debaixo do braço. Envolvo a perna em saco de lixo preto de 100 litros, com cheiro de borracha queimada. Busco palavras difíceis para significar bobagens sentado no vaso sanitário. Improviso, de brincadeira, no banho, estrofes para baladas pop ou sambas-meio-bossa-nova que dão vergonha mas transcrevo assim mesmo no computador.
Depois eu descanso. Às vezes cochilo e até sonho. Com imagens da internet ou dos filmes ou dos livros ou dos filósofos ou sei-lá-de-onde. Tipo: escada que sobe e desce ao mesmo tempo; bichos exóticos das profundezas do mar; romãs das Hespérides; mistérios de Eleusis; com a folia e a sacanagem e a putaria do carnaval em Salvador, no Rio de Janeiro, em Recife e Olinda. Ou, meio acordado, fico imaginando a pele, os bicos dos peitos, o(a) púbis cobertos por lantejoulas das mulatas gostosas da tevê.
Ou nos efebinhos, nos fauninhos, nos pierrozinhos, nos eunuquinhos sambando serelepes, quase pelados, urinando no meio da rua, enchendo a cara de cerveja, jogando confete, esfregando os corpinhos suados, vomitando e gozando nos muros ou entre as pernas uns dos outros.
Até ouvir o toque pontual, as 3 batidas de leve na porta: mamãe chamando para o almoço.
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