sábado, 2 de fevereiro de 2013

dicionários


Em um post de novembro do ano passado (sobre gripe e cinema) comentei sobre o documentário "Raízes do Brasil", dirigido por Nelson Pereira dos Santos, sobre a vida do historiador Sérgio Buarque de Holanda. Chamou a atenção a parte em que Chico Buarque (filho do cinebiografado) conta como ganhou do pai o Dicionário Analógico e de Ideias Afins.

Invejei na hora. Perdi o sono desejando o tal dicionário. Procurei na internet, nos sebos virtuais e só encontrei um, aparentemente interessante, porém por preço astronômico, muito além do meu poder aquisitivo.

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Alguns dias depois, em uma conversa sobre outros assuntos, sem mais nem menos, meu filho (que, duvido muito, acompanha este blog), me falou que tinha encontrado, por preço razoável, em uma megalivraria - adivinhem o quê? - o Dicionário Analógico e de Ideias Afins, de Francisco Ferreira dos Santos Azevedo. Com apresentação de Chico Buarque.

Só não encerrei a conversa na hora e corri para a livraria porque estávamos em uma expedição, no meio do nada, a pelo menos 1000 quilômetros de qualquer civilização.

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Assim que desembarquei em Brasília, mal desfiz as malas, descambei para a livraria. Estava lá, ele, novinho em folha, 2a. edição. Meu coração disparou.

A apresentação de Chico Buarque conta a mesma história narrada no documentário citado acima. Porém com detalhes engraçados. Transcrever as primeiras frases é o mais eficaz para descrever a emoção boba que me tomou:

"Pouco antes de morrer, meu pai me chamou no escritório e me entregou um livro de capa preta que eu nunca havia visto. Era o dicionário analógico de Francisco Ferrreira dos Santos Azevedo. Ficava quase escondido, perto dos cinco grandes volumes do dicionário Caldas Aulete (...). Isso pode te servir, foi mais ou menos o que ele então me disse, no seu falar meio grunhido".

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Na mesma prateleira, ao lado do "Ideias Afins" (ah, as armadilhas do capitalismo selvagem!) estava o Dicionário de Sinônimos e Antônimos, de Antônio Houaiss.

Não resisti ao impulso consumista. Comprei os dois. Ok, em 10 vezes, sem juros, no cartão.

Ainda na fila para pagar o estacionamento do shopping eu não disfarçava o estado de beatitude. Manuseava os livros como se fossem relíquias.

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Fiz como o pai do Chico. Coloquei o Francisco Ferreira ao lado dos 5 volumes (capa azul-marinho e letras douradas desbotadas na lombada) do Caldas Aulete. Junto, os sinônimos e antônimos do Houaiss. Como se estivessem em um altar.

É ridículo, mas vou confessar. Possuir o Dicionário Analógico me fez sentir como se tivesse compartilhado aquele momento, quando o carrancudo pai-Sérgio passasse um bastão que de alguma forma o filho-Francisco tivesse que levar adiante. Como se nele, no dicionário, eu pudesse encontrar chaves que destrancariam (e destrancarão) portas insondáveis.

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(Não acabou. Bisbilhotando, de bobeira, um sebo virtual, encontrei e encomendei, em capa preta e dura, com relevo, por inacreditáveis 4 reais [acrescidos de 16 reais de frete], a 1a. edição (em bom estado de conservação, páginas e lombadas amareladas pelo tempo). Que, permitam os deuses, chegará nos próximos dias, para se juntar ao meu tesouro inofensivo de representações.

Um comentário:

Gwavira Gwayá disse...

ai, ai, ai!
agora fiquei com inveja... também quero um exemplar!
<3