segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013
fragmentos de autobiografias anônimas: o professor C
Eu caminho todos os dias. Cedo ou à noite. Caminho e penso. Não no sentido restrito do verbo. Ideias. Dispersas. Misturadas. Insights. Atiçados por estímulos externos: luminosidade, tons de verde, pôr-do-sol, etc.
De manhã passos acelerados e pensamentos grandiosos. À noite pensamentos relacionados ao lado safado do sexo.
Não as tinha visto. 4 cadáveres. De pombos. Eletrocutados nos fios de alta tensão. Dispostos matematicamente em 4 pontos do trajeto. Minutos de distância uns dos outros. Em sequência cronológica de óbito.
(Como a capa de um disco antigo: um ramo com uma flor branca representando a primavera; uma maçã verde, o verão; outra, vermelha, o outono; a maçã podre, o inverno). Assim eram o cadáver e as carcaças dos pombos.
O primeiro não parecia morto. Havia brilho no olho vermelho-escuro. Sangue escorrendo pelo bico. Corpo ainda mole. Talvez ainda morno.
O segundo pombo estava intacto. Asas rígidas. Penas desbotadas. Como se sempre fosse: bolo de barro e cinza em forma grosseira de ave morta.
O terceiro era carcaça. Entranhas achatadas. Movimento dos milhões de vermes amontoados. Pequenos e brancos. No côncavo do corpo. Na moldura das elipses das penas das asas.
O quarto era um desenho. Anatomia perfeita dos esqueleto sobre uma mancha escura. Ainda em forma de ave.
Então voltei por outro caminho. Sem pombos vivos ou mortos. Só pessoas desejando bom-dia.
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