segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

ensaios para te confessar algo

Era para te dizer que ficou tarde. Que a chuva escorreu pelo ralo e que minha pele continua seca. Que a coruja-harpia rascou o escuro com o bico e as garras cravadas no teu nome. Que a sombra da morte é do tamanho da noite. Sorte haver ainda lua entre as nuvens.

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Fechei as cortinas e acendi a luz. Joguei no lixo as agulhas, os vidrilhos, as lantejoulas, as fitas coloridas, os fios de aço e seda com os quais bordávamos nossa presunção. Mesmo assim eu não me senti mais leve.

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Borrei com algodão umedecido o contorno das palavras. Amoleci a certeza dos sentidos. Raspei com a lixa de pé a dureza dos significados. Só para não ter o que dizer. Doem-me os ombros e a unha encravada do dedão do pé.

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Exorcizo demoniozinhos raquíticos do que restou de você em mim. Esmago insetos, répteis e ratazanas enquanto abro bem os olhos ando firme na direção da porta principal.

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