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Começaram os trabalhos da construção de Roma. Sob a proteção de Apolo, que a toda hora metia o bedelho, via oráculo. Por exemplo: ordenou que se construísse um templo de refúgio para [abrigar] todos os afiltos e fugitivos, indiscriminadamente. Não precisava RG, CPF, atestado de bons antecedentes, curriculum vitae, entrevista, ficha de inscrição, nada. Era chegar e ficar. Boa estratégia. Mão-de-obra abundante. Desqualificada, porém barata.
Construir Roma era um sonho desenvolvimentista grandioso dos gêmeos. Necessitava-se de investimentos vultuosos, participação de capital internacional, empréstimos ao FMI da época, articulações políticas, concessões dúbias. 50 anos em 5, como se disse muito tempo depois.
Foi quando surgiu a primeira querela entre os gêmeos. Com resultado catastrófico.
Diz-se que o motivo era que Rômulo queria construir uma cidade plana, em forma de quadrado. Remo queria uma circular, sobre o o monte Aventino.
Ao invés de perguntar ao oráculo, consultar o agrimensor, o urbanista, o engenheiro ambiental ou decidir no par-ou-ímpar, escolheram decidir a pendenga pelo voo dos pássaros. Mais especificamente dos abutres. Quem enxergasse o maior número deles escolheria o local.
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Para os romanos da época o abutre era o animal menos malfazejo, que não prejudica nem arruina coisa nenhuma que os homens semeiam, plantam ou nutrem; visto como se alimenta somente de carniça e não fere nem mata jamais o que tenha vida; do mesmo modo não toca nos pássaros mortos pela conformidade do gênero existente entre eles.
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A sede de poder tira qualquer um do sério. Devia rolar também alguma questão relacionada à grana. Sabe-se lá. Nesses casos é sempre como no samba: Irmão desconhece irmão.
Remo era ingênuo. Falou primeiro. Tinha visto 6 abutres. Rômulo nem pensou duas vezes. Imaginou rápido: governar sozinho o futuro maior império da terra. Trapaceou. Afirmou ter visto o dobro. Remo duvidou. Rômulo jurou pela mãe mortinha atrás da porta. Discutiram. Brigaram feio. Rômulo segurou Remo de jeito. Fincou-lhe a peixeira no bucho. Matou Remo. Colocou a culpa em um tal de Céler, que sumiu do mapa celeremente sem deixar rastro.
(continua amanhã: o rapto das sabinas)
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