segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

apontamentos dispersos sobre heróis

Recapitulo meus heróis. O primeiro foi Pedro Malazarte de um livro com ilustrações que lembravam Brueghel. Rei Artur e Robin Hood, via Walt Disney. Os super-televisivos Batman, Thor, Príncipe Namor. Tiradentes esquartejado nas aulas de Estudos Sociais e Educação Moral e Cívica. Além dos mitológicos Teseu e Ulisses.

Já maiorzinho eu me identificava com o desmiolado Hamlet e o idiota Príncipe Michkin das leituras escondidas. Dom Quixote. Macunaíma-Grande-Otelo. Lampião do Cinema Novo.

Ao final da adolescência, e por muito tempo, veio Gregor Samsa, metamorfoseado em barata. Lado a lado com os revolucionários Che Guevara e Sandino. E o aterrorizante Zaratustra.

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O herói é assim considerado por realizar feitos extraordinários, extra-humanos. Essa característica é devida a diversos fatores, surgidos em doses excessivas, quase sempre antagônicas, todos juntos ou agrupados em combinações. Tais como: ascendência divina; origem humilde; força física sobrenatural; fragilidade aparente; beleza e harmonia de feições; feiúra e desajeito; destreza; inteligência; liderança; carisma; cavalheirismo; grosseria; impulsividade; ira; descontrole; idealismo; egoísmo; ambição desmedida; despreendimento; fé e/ou convicções inabaláveis; astúcia; estupidez; rigor exgerado de caráter; doses variáveis de desonestidade.

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Grande parte dos heróis já nasce herói. Porque ser herói é atributo divino. O nascimento do herói é cercado de fatos ou indícios sobrenaturais, predições, profecias. Os que não nascem heróis acreditam e desejam e inventam para si o posto: Virgolino, o Lampião, por vingança. Alonso Quijano, o aldeão manchego, de tanto amar romances de cavalaria, autonomeou-se um.

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O anti-herói é a negação do herói. É fraco, escuso, inseguro, apagadinho, comum. Porém possui o mesmo poetencial de loucura do herói. Quer pessoa mais normal que Michkin? o caixeiro-viajante Gregor Samsa? o estudante Raskolnikov?

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Os heróis superam provas variadas. Envidam muita energia para atravessar e superar missões impossíveis. Os anti-heróis por sua vez atravessam (ou tentam atravessar) heroicamente os infernos interiores próprios. Por isso ambos tornam-se seres egocêntricos e individualistas e incompreendidos.

A morte, tanto para o herói quanto para o anti-herói, não é um tabu.

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Além dos atributos pessoais, ser herói depende da oportunidade. Estar no lugar certo, no momento certo. Devem existir testemunhas para o seus atos. Que garantirão a publicidade e o registro dos feitos para a posteridade. A ocasião faz o herói.

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Mesmo quando arrebata multidões o herói é solitário.

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A maioria dos meus heróis encontrou final sangrento. Ou mergulhou na escuridão e na loucura. Não me lembro de nenhum que tenha morrido de overdose, como os da música, os da geração que viveu a virada do século XX. Aliás, meus heróis nunca foram de carne e osso. Poucos tiveram registro histórico.

Na proporção direta da maturidade, da consciência, da desilusão e do desengano da condição humana, a pureza e a sobre-humanidade dos meus heróis reduziu-se. Cedeu espaço aos anti-heróis. Que também enfraqueceram. Até restar ninguém.

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Meus heróis habitavam o mundo caótico do papel, da película e da imaginação.

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