quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

curiosidades do mundo antigo: últimos apontamentos sobre Teseu

Friso do Partenon representando cena da centauromaquia (extraído da Wikipedia)
Gastei horas escrevendo uma postagem espirituosa, leve e bem-humorada sobre as últimas aventuras do herói Teseu. Ao inserir uma imagem fiz alguma besteira e o texto desapareceu. Apelei a todos os recursos (e aos deuses nela citados) Em vão. Sei que toda a graça original perde-se ao reescrever. Mas não conseguirei dormir sem tentar.

...

Em Atenas sacrificava-se pra caramba. Quase sempre ao oráculo de Apolo: para vencer uma batalha; depois da batalha vencida; para pedir conselho; para agradecer ao conselho dado; até para encontrar uma noiva ou se desfazer dela valia a pena um sacrificiozinho. Para alegria dos atenienses, depois do sacrifício rolava uma festança pauleira. Contei 26 sacrifícios e a mesma quantidade de festas nas 100 páginas da biografia de Teseu, por Plutarco.

...

Como já foi dito (postagem de 08/02), Plutarco rebolou para transformar mitologia em fatos críveis. Por exemplo, trata Hércules (semideus filho de Zeus com uma mortal) como personagem de carne-e-osso. Narra (sem entrar em detalhes comprometedores) batalhas contra as amazonas (mulheres guerreiras que só tinham um peito) ou contra os centauros, seres metade superior humana e corpo de cavalo.

Da mesma forma ele trata Helena (futura de Troia). Para quem não sabe, Helena era filha de Zeus (o senhor do Olimpo) e Leda. Leda era esposa do rei Tíndaro, de Esparta. Para seduzir Leda Zeus se disfarçou de cisne. Ao invés de parir como qualquer mortal, Leda botou 2 ovos: de um deles nasceram Clitemnestra e Cástor, filhos de Tíndaro; e Helena e Pólux, filhos de Zeus. Plutarco encontrou uma saída elegante. Gastou poucas linhas no tema e mencionou somente o padrasto terreno da moça.

...

Todo mundo também sabe que os gregos eram sexualmente bem resolvidos. Por isso vale a pena resumir outra passagem gay (clique aqui para ler a primeira) da vida de Teseu:

Pirítoo era rei dos Lápitas. Bem-humorado, bonitão, sangue-bom e um pouquinho estourado. Queria porque queria conhecer Teseu pessoalmente. Roubou gado ateniense só para provocar uma guerra. Na hora do vamos-ver, logo que [Teseu e Pirítoo] se entreviram, ficaram ambos assombrados com a beleza e a ousadia um do outro, de tal maneira que não tiveram vontade de combater. Plutarco preserva a privacidade do par. Não revela a real vontade que tiveram. Pula para a parte hetero: os dois deram-se as mãos e juraram amizade eterna.

Muito tempo e aventuras depois, Teseu, já cinquentão, enviuvou-se pela enésima vez. Sentiu saudade dos velhos tempos vividos com o amigão Pirítoo. Beberam todas e resolveram raptar umas minas da região. A primeira foi Helena.

Tiraram par-ou ímpar. Teseu ganhou a prenda-Helena. Pirítoo foi mais exigente. Pra ele só servia a deusa Prosérpina (também conhecida como Perséfone), a namorada de Hades, o rei dos infernos. Bêbados como estavam, não pensaram nas consequências. Baixaram no reino dos mortos.

Hades era feio mas não era bobo. Recebeu os pândegos com um banquete. Pirítoo fartou-se. Teseu, mais esperto, declinou. Conhecia a regra: quem comesse no reino de Hades, nem que fosse uma pitanga, era condenado a permanecer lá por toda a eternidade. Pobre e guloso Pirítoo. Ficou sem namorada. Perdeu o pau-amigo Teseu. Virou ração para Cérbero, o cão de 3 cabeças que vigiava o portão do palácio de Hades.

(Plutarco apresenta uma versão plausível ao mito. Nem uma palavra sobre Hades. Retira qualquer característica divina de Prosérpina (ou Perséfone). Era filha de Edoneu, rei dos Molóssios. Cérbero era um cão feroz contra o qual [Edoneu] fazia combater aqueles que lhe vinham pedir a filha em casamento).
...

O pior estava por acontecer. Quando Teseu retornou a Atenas, os adversários políticos armaram-lhe uma pegadinha fatal. Espalharam um monte de fofocas e boatos difamatórios (alguns com fundo de verdade) denegrindo irreversivelmente a imagem do velho rei.

Cabe lembrar que Atenas era uma democracia. Em uma democracia quem manda é o povo. O povo é imprevisível. Com base na boataria o povo ateniense condenou Teseu ao exílio.

Teseu partiu para a ilha de Ciros, onde possuía terras. Licômedes, o rei local, não estava a fim de concorrência. Convidou Teseu para um passeio sobre altos rochedos. Com a desculpa de mostrar a extensão da propriedade do exilado. Aproveitou um descuido do velho rei destronado e precipitou-o de alto a baixo e assim o fez desgraçadamente morrer.

...

Assim acaba a história. Não perca, leitor(a), os resumos de passagens pitorescas dos próximos 45 biografados por Plutarco. A seguir: Rômulo, irmão de Remo e fundador de Roma. 

Nenhum comentário: