sábado, 16 de fevereiro de 2013

desenganos

Ela conta: que as araras são monogâmicas. Que os casais permanecem juntos até o fim da vida. Que apareceu uma arara sozinha. Que a arara voava alto. Ou pousava nos galhos do eucaliptal. Chamando o parceiro. Azul e amarelo sobre a mesa. Morto pelo estilingue do menino.

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Eu disse: o dia de hoje não foi engraçado. A cabeça doía quando eu abro os olhos na claridade. O zumbido no ouvido. O medo de abrir a porta da cozinha e dar de cara com o olhar vazio de um morto-vivo olhando para o nada através da sombra do meu olhar.

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Você usou a palavra arrebatador. Para dizer que o vivido foi grande e intenso e profundo. Mas que não adiantava relembrar. Por que não havia jeito de voltar. Você saiu. Trancou a porta. Me deixou sozinho no escuro. Arrastando pelos cômodos o saco de lona pesado onde eu guardava os teus ossos.

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Ele sabe muito. Descreveu a anatomia do vôo de um morcego. Disse que os gatos são responsáveis pela extinção de 70% de espécies de animais de pequeno porte. Enumerou os estágios da transformação de larva em mariposa. Mas não explicou a razão de ainda estar ali. Cheio de conhecimento e de barriga vazia.



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