quarta-feira, 2 de março de 2011

Blue quando tudo está irremediavelmente morto (do Livro dos Cacos)

1. O vampiro

Será na hora lodosa em que a morte reina. Depois da música explodindo os tímpanos. Tempestade entre relâmpagos. Semáforos cravando o breu de amarelo/amarelo/amarelo.

O morcego suga-suga vagueia pelas saliências. Derrama o vampiroso de si pelos desvãos de sombra mais densa das marquises. Olha em infravermelho. Acetileno.

Em desprezo e ânsia: Carne, sangue e ossos humanos pulsando. Poderia beber o sangue do garoto mais bonito encostado no parapeito. Do travesti bêbado. Do mendigo embrulhado no cobertor. Dos ratos do bueiro.

Em desespero e terror: O coração do garoto aos saltos. Gritos recobertos pela camada impermeável do escuro. Morcegos rasgados ao meio pela lâmina dos gritos. Depois silêncio. Frio e fúnebre. O corpo inerte nos braços. Olhos esbugalhados. A mão direita sobre o ventre. Lambe o sangue. O suor gelado. Misturado com sereno. Hálito roxo. Estrelas. Lua. Insetos.

Em morte: 11 horas da manhã. Repuxa a capa. A força maligna fenece. A claridade do dia contorna os limites da sombra.

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