quinta-feira, 17 de março de 2011

Riba

Todo mundo me conhece por Riba. Eu bebia. Demais. Bebida quente: Dreher, rum, Montilla. Só bebida destilada. Quando eu bebia eu ficava doido. Batia na Diana. Nos meninos. Deus me perdoe. Já levantei a mão até pra mãe. Brigava na rua. Virava e mexia, final de semana, caía no mundo. Saía de manhã, só chegava no outro dia, dois dias depois, se chegasse. Beber em casa? nada a ver. Meu negócio era a rua. Bar, sinuca, farra. Só bagaceira. Só má companhia. Se passasse um mês no mesmo serviço era muito. Eu era muito ignorante. Alguém punha a mão nos meus olhos. Para eu não enxergar o rumo certo. O santo tirou isso de mim. Antes de vir prá cá eu já era do santo. Mais ou menos. A gente tinha uma vizinha. A dona Cleusa. Dona Cleusa era vidente. Ela vivia dizendo pra minha mãe que eu era do santo. Que o santo tava me pedindo. Que eu precisava desenvolver. Que se eu não desenvolvesse eu ia dar muito trabalho. Dona Cleusa virava com Exu. Bebia muito. Fumava charuto. Diz-que até usava droga. Por isso minha mãe não quis. Depois eu não me interessei. Mas o santo cobrava. Um dia eu tinha sido mandado embora do serviço. Tinha bebido a grana da feira. Fazia 3 dias que não ia em casa. O santo me bateu. Me emporcalhou na lama. Me fez beber água de poça d’água. Bater a cabeça no meio-fio até desmaiar. O santo me jogou na sarjeta. Não lembro por quanto tempo. Daí o caboclo veio. Falou comigo. Conversou demais. Aconselhou. Disse que eu tinha um trancarrua colado em mim. Me obcecando. Era trabalho da dona Cleusa. Eu tinha que mudar de vida. O caboclo mandou eu procurar na feira a garrafada tal. Que bebesse de manhã e de noite. Que eu procurasse o terreiro tal. Eu fui. Eu fiquei admirado. O terreiro era igualzinho como o caboclo tinha falado. O pai-de-santo jogou búzio. Para ver qual era o santo. Me recolheu. Raspou. Rodante não. As mesmas coisas que o rodante tem eu também tive. Não, eu não viro no santo. Agora é a cabeça dele antes da minha. Agora eu vou caminhar. Meu pai? Não, eu não posso revelar. Só se ele autorizar.

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