sábado, 19 de março de 2011

Lição do triângulo (do Livro dos Cacos)

Presas da esfinge ávida. A beleza sobrepuja a maldade do monstro.

Górgona. Vítimas petrificadas.

As telhas despregam-se do madeirame. Desmoronam as muralhas dos castelos. Os ventos assomam. Fúrias. Titãs. Tempestades. Que venha o exército de minotauros. Que venha a horda das estriges nuas. Arranca-se o gozo das entranhas.

Estou dividido ao meio. Tu também. A metade que prevalece em mim é oposta à tua. Minha metade lança tentáculos em todas as direções. A tua se desvia deles. Minha metade te engole. A tua me vomita.

Desobstrui o cimento dos ouvidos. Arranca o gesso dos músculos. Derrete o gelo dos nervos. Funde o chumbo das palavras.

Olhos de vidro. Pálpebras de aço.

Bebi todo o inseticida que havia na casa.

Cheguei ao fundo do precipício e o meu corpo não se despedaçou nas pedras. Sairei de ti. Incontinente.

Travamos um combate interminável. Solidão de meus mesmos.

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