quinta-feira, 24 de março de 2011

(do Livro dos Cacos)

Na caverna escura, antro do monstro, aterrorizada ela espera. As garras do monstro lanhando-lhe os flancos.

Os olhos dela se acostumaram. Enxergam com grande esforço. Ela percebe pelos outros sentidos. Tênue do cristal do copo. Bordados dourados. Luz vacilante da vela. Morceguear de passos. Insetos nas paredes de veludo. Rosa murcha sobre a penteadeira. Peixe na redoma de mercúrio líquido.

Quando ele surge a música dessintoniza-se. Zumbidos. Silvos. ZN. Ela toca-lhe os pêlos de escova da crina. As vísceras expostas. O vapor negro dos pulmões. Os líquidos mornos de seus dentros. A luz cor-de-carne que emana do seu corpo. Dele ela sente tudo. Insônia.

Clima de pré-catástrofe suspenso. Medo em todos os sentidos.

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