quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Chiquinho e Francisquinho - 10


Francisquinho dormiu até a 1 da tarde do sábado. Acordou estranhamente bem disposto. Um novo homem.

Faminto como um leão. Necessitado de carboidratos, proteínas e líquidos, como um beduíno. Fraco como uma cadela velha no cio. O único resquício da depressão da noite anterior era um sentimentozinho de culpa, quase imperceptível, por menoscabar o vetusto Apolo (representado pela pilha dos filmes cult intocados) e libar em excesso a Dionisos, os filmes pornôs.

Brigou com Bob. Que tinha se aliviado no tapete, coitadinho, não aguentou. Tomou um banho gelado. Com preguiça de comer macarrão de novo, colocou os óculos escuros, a bermuda branca, os fones de ouvido, o boné. Para almoçar no self-service do outro quarteirão.

O mais incrível: até aquela hora nem tinha se lembrado ou pensado em Chiquinho.

O restaurante estava vazio. Sentou-se de frente para a rua. Para ver o movimento. Quase nenhum. Bairro sossegado. Nem notou a entrada do outro freguês. Que sentou-se, sozinho, na mesa ao lado. Em ângulo de visão perfeito para observar e ser notado por Francisquinho.

Francisquinho retribuiu o sorriso. Era péssimo para fisionomias. Conhecia? Provavelmente das caminhadas com Bob. Do Parque. Da academia. Da praia. Do elevador do prédio. Do clube.

Na falta de Chiquinho, Francisquinho não desperdiçaria, sozinho, a dose de felicidade extra proporcionada por Dionisos. Após alguns instantes de hesitação o novo Francisquinho iria ousar. Oferecer-se, pasme!, para sentar-se à mesa do freguês: Posso? É tão ruim comer sozinho. Lindo dia! A gente se conhece de onde? Muito prazer.

Bem na hora de se levantar para a ousadia suprema o freguês simpático e bonitão pediu a o café e a conta. E deu um tchauzinho...

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