sábado, 22 de janeiro de 2011

Rei Lear, Ato III

Cena I
(...)
Kent: Eu te conheço. Onde está o Rei?
Cavaleiro: Lutando com o furor dos elementos; ordena aos ventos que atirem a terra dentro do mar ou cubram o continente com ondas gigantescas para que as coisas mudem ou deixem de existir. Arranca os cabelos brancos que as rajadas violentas, numa raiva cega, apanham em sua fúria e reduzem a nada. Do seu desprezível mundo de homem ele se agiganta, escarnecendo das voltas e revoltas do combate entre a chuva e o vento. Numa noite assim, quando a ursa esfaimada, que amamenta os filhotes, prefere não sair da toca, e o leão e o lobo, com o estômago roído pela fome, preferem consevar o pêlo seco, ele corre com a cabeça descoberta, invocando o fim do mundo.


Cena II
(...)
Lear: Sopra, vento, até arrebentar tuas bochechas! Ruge, sopra! Cataratas e trombas do céu, jorrem torrentes até fazer submergir os campanários e afogar os galos de suas torres. Relâmpagos de enxofre, mais rápidos que o pensamento, precursores dos raios que estraçalham o carvalho, queimem minha cabeça branca. E tu, trovão que abala o universo, achata para sempre a grossa redondez do mundo! Quebra os moldes da natureza e destroi de uma vez por todas as sementes que geram a humanidade ingrata!

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