Aconteceu na quarta-feira, às vésperas do feriadão. No carro. Na volta do trabalho. Francisquinho dirigindo, Chiquinho no banco do passageiro. Chiquinho falou que passaria o feriado fora. Ensaio. Tipo concentração. Na chácara do professor orientador. Na serra. Onde o celular não pegava. Sairiam cedo no dia seguinte. Voltariam na segunda-feira depois do almoço. Ou talvez na terça.
Francisquinho sentiu uma pontada. Engoliu em seco. Chácara? Professor? Suportaria passar a eternidade do feriado sem Chiquinho? Era dependência? carência? ciúme? Desconfiança? Era tudo junto.
Chiquinho aumentou o volume do rádio. Mesmo sendo hora da Voz do Brasil. Não trocaram palavra até entrar em casa. Francisquinho ligou a TV. Chiquinho abriu uma lata de cerveja. Não ofereceu a Francisquinho. Arrumou a mochila.
Chiquinho, impiedoso, jogara Francisquinho na jaula das feras da solidão.
Autocontrole era essencial. Cena de ciúmes àquela altura só pioraria as coisas. Francisquinho tentava compreender. Aceitar. Era a hora de provar ser um exímio piloto para o aviãozinho do amor não embicar de vez e explodir no solo matando o tripulante, o comissário de bordo e o passageiro canino. Francisquinho Respirou fundo. Desligou a TV. Afinal de contas, era o trabalho de formatura de Chiquinho. A chave de ouro que abriria as portas da carreira do namorado.
Só traiu-se ao deixar escapar, cara e voz desamparadas: eu vou cuidar do Bob sozinho? Pergunta desnecessária. Óbvio que sim.
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