Chiquinho cursava o último semestre. Teatro. Estava empolgadíssimo com o TCC. Cujo tema Francisquinho achou o máximo: a diversidade estética e de gênero nas artes performáticas contemporâneas. Trabalho de grupo. A parte teórica estava quase pronta. A prática seria, é óbvio, uma performance. Em espaço cultural alternativo. Com registro fotográfico, filmagem, projeções, trilha sonora e transmissão pela internet.
Francisquinho dava a maior força. Pesquisava. Imprimia imagens. Sugeria detalhes de figurino. Morto de vontade de colaborar. Como se o TCC fosse dele também.
Chiquinho agradeceu. Mas foi categórico: nada a ver. Francisquinho compreendeu. Só queria ajudar.
Os ensaios começaram. No espaço cultural alternativo. Em um bairro afastado. Quase periferia. Chiquinho recusou a oferta de Francisquinho levá-lo. Não precisava. Ia de carona com o grupo. De ônibus. De metrô.
Ensaio de teatro sempre atrasa. Demora para acabar. Ensaio de performance então nem se fala. Nos primeiros ensaios Francisquinho esperava Chiquinho chegar. Preocupado com os assaltos, os traficantes, as balas perdidas. Nem prestava atenção ao filme, à notícia do jornal da noite, ao entrevistado do talk-show. Só se deitava porque precisava acordar cedo no dia seguinte. Mas não dormia. Ansioso esperando ouvir o barulho da chave na porta. 3h. 3h:30min.
Os dois eram adultos. Cada um conhecia suas responsabilidades. Longe de Francisquinho ser chato. Controlador. Podar o impulso criativo de Chiquinho. Por isso, fingia dormir quando Chiquinho entrava debaixo do lençol. Com cheiro de suor, bebida e cigarro amargando a madrugada.
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